Bom dia! Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a todos os participantes e organizadores desta 10ª edição do Bunkyo Rural. Estou aqui conhecendo e reencontrando bons e velhos amigos em Adamantina. Um prazer estar com todos vocês, senhores Valdomiro, Tomio, Celso Mizumoto, Nélson Kamitsuji, Osvaldo Matsuda e meu velho amigo Kunio Nagai. Cumprimento também o Sr. Yamashita, hoje vice-presidente do Bunkyo, e o secretário Gustavo Junqueira.

Todo mundo lê no jornal e vê na televisão diariamente algo dramático. O mundo não tem liderança. Quem é o líder global hoje? Não é o Trump, não é o Putin, não é aquele rapaz da Coreia do Norte. Temos, na verdade, uma ausência de líderes. Sem um líder, não há projetos. Quem monta um projeto é o líder. Eu peguei o tempo de Hitler, Stalin, Kennedy, peguei de tudo, da esquerda, da direita, etc. Você poderia não gostar da liderança, mas ele dava um rumo. Hoje, como falei, vivemos em um mundo sem líderes. E isso preocupa.

Um tema que tem preocupado muito a Organização das Nações Unidas (ONU) é a segurança alimentar. Você pode trabalhar com qualquer coisa, mas ninguém pode ficar sem comer. O tema é tão relevante que a ONU faz muitas pesquisas. E um estudo da ONU aponta que em 2050 teremos uma população de 9,7 bilhões de pessoas em todo o mundo, um aumento de 26% em relação aos 7,7 bilhões atuais.

Você pode caminhar com qualquer coisa, mas não pode ficar sem comida. A ONU vem falar, cuida da paz no mundo inteiro. Um outro estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) concluiu que o mundo terá de produzir 20% a mais de alimentos até 2026/2027 para suprir a demanda global; e que, para isso acontecer, o Brasil precisará, e será o único país, a elevar sua oferta em 41%, o dobro da meta mundial.

Esse cenário é preocupante. Quando um país como os Estados Unidos diz que vai faltar comida, o problema é sério. Não é fácil aumentar a produção em 20%. A produção nos Estados Unidos cresce no máximo 10% ao ano, a China 15%, a Índia em média 12%, o Canadá 9%, a Rússia 7% e a Nova Zelândia 9%. Todo mundo cresce menos de 20%.

E o mundo pede ao Brasil para aumentar a sua produção em 40%. Essa situação decorre de três condições peculiares: temos a melhor tecnologia tropical e sustentável do planeta, terra disponível para crescer e sobretudo gente competente nos diferentes elos das cadeias produtivas. A demanda é inédita.

O Brasil tem uma matriz energética incrível. Quarenta e três porcento da energia é renovável. O mundo inteiro tem 86% de energia não renovável. A cana de açúcar, só ela, é responsável por 17% da nossa energia. A cana gera mais energia do que as hidrelétricas juntas. Com o milho, ontem, soube em São Paulo, que a Alemanha está desenvolvendo um biodiesel hidrogenado.

Gente, o Brasil tem muitas terras. Três quartos do país ainda têm pastagens. Temos tecnologia e terras como nenhum outro país no mundo tem. Eu formei gente a vida inteira para trabalhar na agricultura. E nesse cenário, posso afirmar para todos vocês que os japoneses foram fundamentais no Brasil com três características: eles mudaram a nossa agricultura com novos métodos, introduziram novos produtos no país e implantaram a ideia do cooperativismo.

Também não podemos nos esquecer do Prodecer, o Programa de Desenvolvimento do Cerrado. Era uma terra pobre, ninguém queria. Os japoneses foram lá e transformaram a região, hoje uma grande região do agronegócio. Meu pai era engenheiro agrônomo e vivia dizendo que os japoneses revolucionaram a agricultura brasileira. Também não tenho a menor dúvida disso.

Em 2018, as exportações do agronegócio do Brasil atingiram um recorde nominal de US$ 101,7 bilhões em 2018, alta de 5,9% em comparação a 2017, especialmente para a China. E vejam que fantástico. Em 2000, as vendas para o exterior atingiram as cifras de US$ 20,6 bilhões, tendo como principais mercados a Europa e os Estados Unidos. O saldo comercial do agronegócio na balança comercial é sempre muito positivo. O setor, em 2018, representou 21% do PIB brasileiro.

Vejam que coisa interessante. Esse quadro mostra as exportações do agronegócio no ano passado. Outros setores também exportaram, mas vejam bem a importância do agronegócio. O Brasil é o maior produtor mundial de laranja, com 62%. Também lideramos em café, com 32%, e açúcar, com 20%. E somos os vice-campeões mundiais em soja (32%), carne de boi (16%) e carne de frango (14%). Ah! E também podemos destacar o milho, como terceiro maior produtor mundial com 9%, e a carne suína, que representa 3%.

E poderíamos estar muito melhor. Vocês têm ideia de quanto o Chile exporta de peixes no mundo? Sabe quanto exportamos de leite? Zero. Somos campeões em várias categorias, mas poderíamos ser muito melhores. Temos 8 mil km de costas no litoral e 14% de água doce do mundo e representamos apenas 0,2% do mercado mundial de peixes. O Chile, aquela tripinha na América do Sul, exporta três vezes mais.

Costumamos elogiar muito o Brasil, mas nem tudo está garantido. Alguns países cresceram mais do que nós. Está todo mundo de olho nesse mercado. Não estamos com a guerra ganha. Temos tecnologia, mão de obra, mas precisamos reconhecer que há gente melhor do que nós mundo afora. O Brasil era líder mundial na produção de carne bovina. Caímos no ranking. Temos mercado, é verdade, mas tem gente crescendo mais do que nós.

Estou preocupado com a tecnologia brasileira. Estamos ficando para trás. Os últimos governos de São Paulo abandonaram a ciência paulista. O secretário da Agricultura Gustavo Siqueira, que estava aqui ainda pouco, sabe disso. Já avisei…você só terá sucesso quando tiver ciência. É preciso brigar com o Estado para melhorarmos a nossa ciência.

Já está na hora de ir embora mesmo. Então vou correr com a minha apresentação. Como vimos, o consumo mundial de alimentos vai crescer nos próximos dez anos. Tudo vai crescer, mais do que o Brasil pode produzir. O Brasil é fundamental no cenário mundial e tem papel para ganhar a guerra. Mas não podemos achar que tudo está resolvido.

Precisamos olhar com carinho para o pequeno produtor. No último Censo do IBGE, 81% dos gestores rurais são homens. Só que isso está mudando. Cinquenta porcento dos produtores brasileiros já trazem mulheres no comando. Não na liderança máxima, mas elas estão crescendo. Aliás, não só as mulheres, como os jovens também.

Nós temos uma juventude com menos de 60 anos. Na Europa, a idade média dos agricultores é de 68 anos. No Brasil, 70% dos produtores rurais são donos de pequenas terras. Mas não é fácil ser pequeno produtor por aqui.

Sou conselheiro da Fundação Dom Cabral. Fui visitar Mariana, aquela cidade mineira onde ocorreu o acidente da Samarco. Não fizeram nada até hoje. Não conseguem fazer nada para indenizar os produtores. Lá, eram só pequenos produtores. Para receber indenização, eles precisam declarar que têm reserva ambiental. Mas ninguém tem.

O Brasil tem 5 milhões de propriedades rurais. Mas o pequeno produtor é essencial e está desenvolvendo algo essencial. Estou vendo o número de pessoas vegetarianas crescendo. A minha secretária é vegana. Ela vive doente. Sabe o que ela come? Ela come hambúrguer de jaca e pizza de abobrinha. Mas é o que está acontecendo no mundo, com muitas mudanças de comportamento e novas tendências alimentares. Estive em um congresso em São Paulo, onde só tinham jovens e lindas mulheres. Elas me perguntaram o que eu planto. Eu respondi: cana, soja e pecuária. Elas não vão comprar nada do que produzo.

Meu neto está estudando fora do país. Ele virou e falou. Vô, vou comer carne somente uma vez por semana. Na Europa tem um modismo, que não cabe no Brasil. Se dependesse do meu neto, estava morto.

Mas quero deixar aqui uma reflexão. O Brasil pode fazer sua parte na agricultura mundial. A pergunta é: isso é possível? Sim. A segunda pergunta é: Vamos fazer? Não. Precisamos de muitas mudanças.

Os japoneses querem investir no Brasil. O próprio secretário Junqueira falou isso. Mas eles querem segurança jurídica. E para isso, é preciso também reforma previdenciária, reforma tributária e mais investimento em tecnologia. Olha que coisa. O mundo inteiro tem seguro rural, nós não temos. No meu primeiro ano como ministro da Agricultura, criei o seguro rural. Quinze anos depois, menos de 10% dos produtores rurais tem seguro.

O Brasil é instrumento da paz mundial. O Brasil embarca nesse trem. Temos um bom secretário e uma grande ministra da Agricultura. Mas precisamos de uma estratégia mais ampla.

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