Uma das principais economias do Paraná, a cidade de Londrina foi palco, no dia 12 de novembro de 2022, da 15ª edição do Bunkyo Rural, organizado pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social (Bunkyo) em parceria com a Aliança Cultural Brasil-Japão no Paraná, Associação Cultural e Esportiva de Londrina (Acel) e a Cooperativa Integrada. Com o tema “Agricultura Antenada com o Futuro”, o evento foi realizado pela primeira vez de maneira híbrida no Pavilhão Horário Sabino Coimbra do Parque Ney Braga – Sociedade Rural do Paraná, com transmissão ao vivo pelo YouTube.
Na véspera do encontro no Parque Ney Braga, uma comitiva do Bunkyo Rural de São Paulo fez uma visita técnica às instalações da Embrapa Soja na Fazenda Santa Terezinha, no Distrito Warta, em Londrina. Depois, no mesmo dia, houve uma visita às instalações da Associação Cultural e Esportiva de Londrina, onde o grupo foi recepcionado pela diretoria da entidade, e também ao Castelo Japonês, na cidade de Assaí.
Na programação do 15º Bunkyo Rural constaram as palestras sobre “A visão de futuro para atuação no agronegócio”, com o representante da Agência de Cooperação Internacional do Japão, Issei Aoki, “Edição gênica na atualidade”, com Francismar Corrêa Marcelino Guimarães, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Soja da Embrapa em Londrina, “SAFTA – Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu”, com o ex-presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Michinori Konagano, e “Agricultura sustentável e integrada”, com o engenheiro agrônomo da Integrada Cooperativa Agroindustrial de Londrina, Wellington Xavier Furlaneti.
Segundo George Hiraiwa, ex-secretário de Agricultura do Paraná e coordenador geral do Bunkyo Rural em Londrina, o evento no Parque Ney Braga teve como objetivo fazer uma “provocação” acerca das necessidades de mudanças no agronegócio local, bem como a busca para ampliar a parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) no quesito pesquisas e investimentos em tecnologia. “Não tenho dúvidas que em breve a JICA poderá ser protagonista de novo na agricultura brasileira, mas desta vez com viés trazendo novidades, tecnologias e inovação. Falando de um modo simples, vocês nos ensinaram a produzir, então, ajuda a gente a processar e a ter produtos mais inteligentes”, destacou Hiraiwa em seu discurso.
Hiraiwa, que também é diretor de inovação da Sociedade Rural do Paraná, coordenador da Agro Valley e vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Japão do Paraná, além de fundador da Cocriagro – o primeiro hub de inovação de Londrina – lembrou que, de 2010 a 2015, a Jica investiu cerca de US$ 5 milhões na Embrapa Soja, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizada em Londrina (PR), para a implementação do projeto de cooperação técnico-científico para desenvolver variedades de soja tolerantes à seca.
Brasil e Japão em projeto piloto a partir de 2023
Palestrante da JICA em Londrina, Issei Aoki destacou que o governo japonês tem a intenção de continuar apoiando as iniciativas agrícolas do Brasil. Ele lembrou que em 2021 a Jica realizou a pesquisa preparatória como parte da fase de planejamento para a implementação do Projeto de Desenvolvimento Colaborativo da Agricultura de Precisão e Digital para o Fortalecimento de Ecossistema de Inovação e Sustentabilidade do Agro Brasileiro. Em maio de 2022, foi enviada ao Brasil uma missão de planejamento para discutir a implementação com o Ministério da Agricultura e a Embrapa.
Como resultado, Brasil e Japão decidiram pela implementação de On-Farm Experimentation (OFE, projeto piloto) dos grãos (trigo, soja, milho, etc.), pecuária e sistema agroflorestal. A cooperação está programada para iniciar em 2023, por um período de quatro anos. Exemplos de tecnologias incluem desenvolvimento de sistema de compartilhamento de dados, sistema de identificação do gado, rastreabilidade, aplicativo de suporte agrícola e arquivamento de dados existentes. O processo de seleção das empresas participantes do lado japonês será decidido em 2023.
No balanço geral de Hiraiwa, o Bunkyo Rural de 2022 foi extremamente positivo. “Acho que o importante é que demos o recado aos produtores da região de que é preciso pensarmos no futuro, com inovação. E no aspecto digital, a JICA tem muito a nos ajudar”, disse o coordenador. Ele também destacou que a palestra de Michinori Konagano, que também é ex-secretário de Agricultura de Tomé-Açu, que abordou o SAFTA, veio para quebrar paradigmas. “Ficou claro que é preciso acelerarmos as mudanças com sustentabilidade. Precisamos melhorar a forma de produzir, especialmente de maneira inteligente e com recursos que a própria natureza disponibiliza”, completou.
SAFTA, de Tomé-Açu para o mundo
Durante sua apresentação, Konagano disse que a Camta começou a incentivar a partir dos anos 70, entre seus associados, um novo sistema de produção, consorciando fruteiras (cacau, maracujá, cupuaçu, acerola, açaí, banana e outras), dentro das áreas de pimenteiras decadentes, objetivando o cultivo contínuo do solo, para geração de renda a curto, médio e longo prazo.
Baseada nas experiências de campo e na floresta nativa, a Camta aprimorou a tecnologia ao segundo estágio, plantando espécies arbóreas da Amazônia, completando o sistema com culturas perenes (castanha-do-Brasil, andiroba, bacuri, paricá, freijó, mogno, ipê roxo, ipê amarelo, seringueira, dentre outras) para aproveitar a mesma área, formando um sistema sucessivo de rotação das culturas, durante e depois do plantio da pimenta-do-reino.
Esse fato serviu como uma oportunidade de consolidar, após sucessivas tentativas de erros e de acertos, o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA), que combina as plantações frutíferas e árvores. Esse método de plantação chamou muito a atenção por possibilitar simultaneamente a conservação ambiental da região amazônica e a produção agrícola, resultando também num ambiente agradável de trabalho e produção, além de proporcionar renda contínua, sem falar da qualidade dos alimentos. Hoje, o mesmo sistema já opera em outras regiões do Brasil, na Bolívia e em Gana, na África.
A palestra de Michinori Konagano já despertou o interesse de alguns produtores rurais de Londrina, que devem criar uma comitiva para visitar Tomé-Açu e conhecer de perto o SAFTA no primeiro trimestre de 2023. “Andando pelo Paraná, vejo que é uma região com grande potencial. Temos condições de implantar a SAFTA em qualquer bioma, após escolher e avaliar o potencial da região. Estamos mexendo com os sentimentos dos paranaenses e a ideia era essa, proporcionar uma mudança de mentalidade e provocar uma reflexão acerca da produtividade com sustentabilidade”, disse Konagano.
Agronegócio representa 28% do PIB de Londrina
Presente ao Bunkyo Rural, o vereador e presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico e do Agronegócio da Câmara Municipal de Londrina, Eduardo Tominaga, gostou do que viu e ouviu da comissão organizadora e de palestrantes do evento. “Receber o Bunkyo Rural em nossa cidade é uma grande satisfação. Londrina originou-se da agricultura e até hoje o agronegócio tem uma força muito grande em nossa economia, com 28% do PIB local”, disse.
Tominaga lembrou, porém, que é preciso Londrina avançar na questão da agroindústria. O município, segundo ele, tem muita matéria-prima, mas necessita evoluir com a indústria de transformação. “Temos boa mão de obra, academia e apoio da iniciativa privada, além de estarmos fomentando no Plano Diretor, desde 2018, para que o agronegócio tenha maior participação na cidade”, afirmou. Ele disse ainda que a sinergia do legislativo com a iniciativa privada é uma tendência que não tem volta. “O poder público tem uma limitação, por isso é fundamental aproveitarmos as parcerias com a Cocriago e a Sociedade Rural, por exemplo”, disse.
Evento foi importante para disseminar discussões
Hiraiwa disse que o Bunkyo Rural em Londrina foi de fundamental importância para que as pessoas e os produtores paranaenses pudessem conhecer que existe uma atividade do Bunkyo que cuida do agronegócio. O mesmo pensamento foi compartilhado por Jorge Hashimoto, presidente da Cooperativa Integrada. “Não conhecia o Bunkyo Rural, mas vejo o quão importante ele é em nosso contexto, especialmente dentro da comunidade nipo-brasileira. Receber um evento desse porte tão grande com assuntos diferentes e palestrantes de alto nível foi fantástico”, elencou Hashimoto.
A Integrada, como uma das dez principais cooperativas agrícolas do país, tem um papel de extrema relevância no agronegócio de Londrina e região. Os números não deixam a menor dúvida disso. Hoje são mais de 12 mil cooperados em mais de 50 municípios, inclusive na região Sudoeste de São Paulo, agroindústria com processamento de farelo de soja, óleo, amido de milho e uma indústria de suco de laranja concentrado, com 100% de sua produção voltada à exportação.
O empresário Edson Yamamoto foi de São Paulo a Londrina especialmente para acompanhar o Bunkyo Rural. Foi a segunda vez que participou do evento (esteve em São Gotardo em 2020) e lembrou que foi um aprendizado muito rico. “Tive a oportunidade de uma boa troca de informações, discutir e conhecer tecnologias e agregar muito conhecimento”, revelou. “Esse clima de um querer ajudar o outro também me fascina e contagia. Michinori Konagano tem sua experiência que encanta o mundo, isso é impagável”, completou.
Yamamoto há 15 anos aposta na agricultura com terras na Bahia. Recentemente ele trocou o cultivo do tomate por 30 mil pés de café entre as cidades de Maracás e Jequié. “Ainda sou um calouro no agronegócio, por isso é sempre bom ouvir conselhos e experiências dos nossos agricultores. E o Bunkyo Rural proporciona essa vivência”, argumentou.
Juazeiro, na Bahia, ou Petrolina em Pernambuco em 2023
Essa foi a primeira vez que o Bunkyo Rural ocorreu em terras paranaenses. Até então, as edições anteriores tiveram como palco cidades do interior paulista, São Gotardo, em Minas Gerais, e Tomé-Açu, no Pará. As duas últimas ocorreram entre 2020 e 2021. “Aceitamos trazer o Bunkyo Rural para Londrina pois acreditava no sucesso do evento. Para nós é motivo de orgulho e satisfação ter realizado esse encontro. Tive a oportunidade de conhecer a Embrapa Soja e promover a integração entre São Paulo e Paraná”, disse Eduardo Suzuki, presidente a Aliança Cultural Brasil-Japão.
Para 2023, de acordo com Nélson Kamitsuji, presidente da Comissão Bunkyo Rural Kiyoshi Yamamoto, é quase certo que deverá ocorrer em Juazeiro, na Bahia, ou Petrolina, em Pernambuco. “Cumprimos a missão com pleno êxito em Londrina e agradeço a todos pelo apoio recebido. Agora, já é hora de pensarmos na próxima edição e essas duas cidades manifestaram o desejo de sediar o Bunkyo Rural de 2023. Vamos avaliar para decidirmos”, antecipou.
Uma comitiva do Bunkyo Rural já realizou visita técnica, de 29 a 31 de outubro de 2021, em ambos os municípios, no perímetro irrigado do médio São Francisco, onde se produz 90% das mangas e uvas exportadas para diversos países. A visita, na ocasião, contou com o apoio da Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira do Vale do São Francisco (Acenibra).
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